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Sincretismo de Cosme e Damião é tema de exposição em São Paulo

Os gêmeos mais populares do sincretismo religioso brasileiro, Cosme e Damião, serão o centro de uma exposição que promete revelar as múltiplas camadas de suas histórias e devoções. A mostra “Cosme e Damião ─ diversidade e coexistência”, que será inaugurada neste sábado na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, em São Paulo, reúne peças dos séculos 18 e 19 vindas da Europa, Ásia e do Nordeste brasileiro, além de esculturas africanas e um ícone ortodoxo da Coleção Ivani e Jorge Yunes. O público poderá conhecer imagens de arte sacra erudita e popular, evidenciando as origens mestiças e o sincretismo religioso que colocam os irmãos em diferentes tradições e coexistências religiosas.

Cosme e Damião, originalmente conhecidos como Acta e Passio, nasceram na cidade de Egeia, na Arábia, no final do século 3 d.C. Formados em medicina na Síria, tornaram-se célebres por praticar a cura de forma gratuita, sendo chamados de anárgiros, termo grego que significa “avessos ao dinheiro”. Devotos da fé cristã, os irmãos eram reconhecidos por sua caridade e por buscar o bem-estar espiritual das pessoas, convertendo-as ao cristianismo e conquistando grande respeito na sociedade. Perseguidos por não renunciarem à sua fé, foram acusados de feitiçaria e enfrentaram torturas antes de serem martirizados.

O culto aos gêmeos médicos chegou ao Brasil em 1530, trazido pelo capitão-donatário português Duarte Coelho Pereira. No Nordeste, passaram a ser invocados para proteção contra contágios e epidemias, sendo considerados protetores dos farmacêuticos e cirurgiões. Também são solicitados em momentos de parto duplo ou contra feitiços e bruxarias.

No século 19, o culto a Cosme e Damião foi popularizado pelo sincretismo das religiões de matriz africana, especialmente pelas comunidades negras no Brasil. Nesse processo, os santos foram associados a entidades e forças das religiões afro-brasileiras, como o orixá Ibeji, protetor dos gêmeos no sistema de crenças iorubá, e aos Erês, entidades da linha das Crianças na Umbanda, que representam pureza, alegria e sabedoria espiritual infantil. Esse sincretismo foi uma tática de resistência e sobrevivência dos escravizados, que, proibidos de manifestar suas crenças, passaram a invocar suas divindades sob a imagem dos santos católicos.

A exposição destaca como o culto a Cosme e Damião transcendeu as fronteiras do catolicismo, tornando-se um dos principais fenômenos do catolicismo popular e um símbolo de união e resistência cultural nas religiões afro-brasileiras. A presença de Doum, um “terceiro irmão” criado na tradição brasileira, reforça ainda mais a riqueza e a complexidade desse culto, que continua vivo e vibrante em diversas comunidades religiosas do país.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)
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