Os impactos da Operação Contenção ultrapassam os números oficiais de mortos, prisões e armas apreendidas. O que ficou gravado na memória dos moradores dos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, foi um dia de terror, interrupção da vida cotidiana e dor coletiva. “Uma bomba invisível” é a expressão usada pelo professor e especialista em violência urbana José Claudio Sousa Alves, da UFRRJ, para descrever as consequências de operações policiais desse porte sobre a população das favelas. Não apenas os tiroteios, mas o fechamento de escolas, postos de saúde, comércio, o desvio e a queima de ônibus, além do estacionamento de corpos no meio das ruas, transformaram essas comunidades em cenário de luto e horror. As perdas são imediatas, mas também duradouras: o impacto na saúde física e mental dos moradores é amplo e profundo. Diabetes, hipertensão, distúrbios emocionais e mentais, insônia, acidentes vasculares cerebrais, glaucoma e inúmeras outras complicações acompanham quem sobreviveu ao tiroteio e ao medo constante.
Estudos acadêmicos já mostraram que o risco de desenvolver depressão e ansiedade entre moradores de comunidades expostas a tiroteios frequentes é mais que o dobro em relação aos que vivem em áreas menos violentas. Insônia, hipertensão, sudorese, tremores e falta de ar estão entre os sintomas relatados por um terço dos moradores durante episódios de violência policial. O medo e o estresse tornam-se doenças silenciosas, invisíveis para o restante da cidade, que não vivencia cotidianamente o “estado de exceção” vivido nas favelas.
Os protestos que se seguiram à operação trouxeram à tona a indignação de moradores como Raimunda de Jesus e Liliane Santos Rodrigues. Raimunda denuncia a discriminação sofrida pelos moradores de periferias, que exige do Estado uma postura de cuidado, e não de guerra, contra sua própria população. Liliane, por sua vez, viu na morte de tantos jovens na mesma operação o eco da dor que sentiu há seis meses, quando seu filho foi baleado por policiais, a caminho do trabalho. Para ela e tantas outras mães, o trauma é renovado a cada grande operação. A sensação de desamparo e ausência do Estado, exceto por meio da repressão, mina ainda mais a confiança da população.
A Operação Contenção, apesar do discurso oficial de “sucesso”, deixou marcas irreparáveis. Para além da letalidade inédita — a maior já registrada em uma ação policial no Brasil —, é a dor das mães, a distância crescente entre Estado e população, e a saúde comprometida de milhares de moradores que apontam para o fracasso desta e de outras políticas de segurança excessivamente repressivas. O desafio, como lembra o professor Alves, não é apenas conte

