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Sociedade civil defende urgência de limitar aquecimento global a 1,5°C

Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30), marcada para Belém em novembro, organizações da sociedade civil traçaram um mapa de urgências e prioridades que querem ver refletidas no debate oficial. O documento apresentado nesta quinta-feira, 16 de outubro, em Brasília, carrega um recado peremptório: o mundo não pode mais justificar atrasos. Limitar o aquecimento global a 1,5°C até o final do século tornou-se uma corrida contra o tempo.

O texto é resultado de dois dias de debates intensos durante o evento “O Caminho para Belém”, promovido por entidades do peso de Greenpeace, Instituto Clima e Sociedade, Instituto Talanoa, Observatório do Clima, WWF-Brasil e outras. O encontro reuniu especialistas internacionais, enviados especiais da COP30, parlamentares, ministros e representantes do alto escalão das Nações Unidas, além de lideranças indígenas, em um claro esforço para alinhar forças e pressionar por avanços.

A demanda central é por resultados concretos, capazes de elevar a ambição das ações globais para frear as mudanças climáticas e, assim, restaurar parte da confiança, desgastada, nos processos multilaterais. “A primeira COP da Amazônia tem a oportunidade de deter e reverter o desmatamento até 2030 e ampliar o financiamento climático público. A conferência deve dar uma resposta firme à lacuna de ambição das NDCs”, destacou Anna Cárcamo, especialista do Greenpeace Brasil. O documento articulou, portanto, seis eixos prioritários.

O primeiro deles trata da redução das emissões de gases de efeito estufa com justiça social. O pedido é que países, especialmente os mais ricos, assumam cortes profundos já nesta década, capazes de colocar o planeta na rota dos 1,5°C — meta reconhecidamente crítica para evitar cenários climáticos catastróficos. O segundo eixo exige uma transição energética justa, com um calendário global para o fim dos combustíveis fósseis, coerente com a NDC brasileira.

O terceiro ponto é ainda mais ambicioso: criar um mecanismo global de suporte para transições justas, coordenando apoio técnico, financeiro e tecnológico entre países, para evitar que desigualdades se aprofundem no processo de descarbonização. O quarto eixo propõe um pacote robusto de adaptação climática, concluindo o Marco UAE–Belém para Resiliência Climática Global, com atenção especial à inclusão de povos indígenas, quilombolas, comunidades locais e periferias urbanas, justamente os grupos mais vulneráveis ao caos climático.

O quinto eixo adiciona o olhar amazônico à agenda: sinergias entre clima e natureza, que, na prática, significam um plano de ação concreto para eliminar o desmatamento e a degradação florestal até 2030, acompanhado de financiamento adequado e da valorização do conhecimento tradicional. Por fim, o sexto eixo pede financiamento climático ambicioso, com um roteiro claro, o chamado Baku-Belém, para assegurar recursos novos, públicos e previsíveis, dos países desenvolvidos aos em desenvolvimento.

Aliás, o financiamento é ponto sensível. “Não há resiliência possível sem previsibilidade no financiamento da adaptação climática. Sem uma meta clara, cairemos num abismo já no próximo ano”, alertou Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. O tom é de urgência: o debate nas negociações não pode mais se restringir a promessas, mas sim a garantias palpáveis de recursos para adaptação, mitigação e reparação de perdas e danos.

O perfil diversificado do evento “O Caminho para Belém” chamou atenção. Participaram nomes como o subsecretário-geral da ONU para Mudança Climática, Selwin Hart, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e enviados especiais de governo e sociedade civil. Segundo André Castro Santos, diretor técnico da LACLIMA, o encontro mostrou que os setores organizados conseguiram, mesmo diante de divergências, apresentar consenso sobre o que deve ser defendido em Belém, refletindo um cenário de maturidade e colaboração.

Mas o otimismo não esconde os desafios. Claudio Angelo, coordenador do Observatório do Clima, sublinhou: “Esta é uma COP diferente das outras, que ocorre no pior momento da cooperação internacional, mas o fracasso não é uma opção”. O recado veio em tom de alerta: diante da emergência climática, que se manifesta em extremos cada vez mais intensos, a inação terá um preço muito mais alto que a ação política.

A COP30 está sendo vista como momento-chave, uma década após o Acordo de Paris, para transformar ambição em implementação. O fato de a reunião ocorrer na Amazônia, território símbolo da crise climática global, reforça a pressão para que o Brasil lidere um novo capítulo no combate ao aquecimento e ao desmatamento. As organizações da sociedade civil esperam que as propostas apresentadas em Brasília ecoem no centro das negociações em Belém, onde o mundo precisará, mais do que nunca, mostrar união, coragem e resultados concretos.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)
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