O estado de São Paulo vive, nos últimos dias, intensa repercussão de um escândalo envolvendo a venda de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, uma substância altamente tóxica para humanos, capaz de provocar cegueira, danos neurológicos irreversíveis e até a morte. As ações coordenadas pela Polícia Civil paulista, denominadas Operação Poison Source – Fonte do Veneno, já resultaram na prisão de 57 pessoas suspeitas de integrar uma vasta rede de falsificação e comercialização ilegal dessas bebidas em 2025. Apenas na terça-feira, 14 de outubro, seis indivíduos foram presos em flagrante durante mandados de busca e apreensão realizados em oito cidades do estado, incluindo a capital paulista, Santo André, Poá, São José dos Campos, Santos, Guarujá, Presidente Prudente e Araraquara.
Detalhes das investigações apontam para uma estrutura criminosa bem organizada, com atuação em diversas regiões do estado. Segundo autoridades, o esquema envolvia desde fornecedores de insumos até donos de bares e adegas, que mantinham garrafas com rótulos originais expostas para atrair a clientela, mas revendiam nos copos bebidas falsificadas, contaminadas com metanol. Durante as buscas, foram apreendidas toneladas de produtos, máquinas, documentos e celulares, que servem de provas para a investigação. Ao todo, 15 estabelecimentos comerciais foram interditados cautelarmente em decorrência das operações.
A repercussão do caso ganhou dimensão nacional, com São Paulo sendo considerado um centro desse tipo de crime, segundo o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais, Ronaldo Sayeg. Ele ressalta que, pela dimensão do estado e a existência de fábricas clandestinas, São Paulo funciona como ponto focal de distribuição de bebidas adulteradas até para outros estados. Um dos principais falsificadores, detido no início do mês, mantinha conexões com pelo menos seis estados brasileiros diferentes.
O risco à saúde pública é grave. De acordo com o último levantamento do Ministério da Saúde, há 213 notificações de intoxicação por metanol, sendo 32 casos confirmados e outros 181 sob investigação. Até o momento, 320 casos suspeitos já foram descartados. O estado de São Paulo concentra a maioria dos casos confirmados, com 28 registros, seguido pelo Paraná (3) e Rio Grande do Sul (1). O balanço também aponta cinco mortes confirmadas no estado paulista e outras nove sob investigação em diferentes estados, incluindo Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Ceará.
A operação policial, que contou com a participação de cerca de 150 agentes, está focada em desmontar toda a cadeia do crime, desde a produção clandestina até a venda direta ao consumidor final. Segundo a delegada coordenadora da ação, Leslie Caram Petrus, nos diálogos interceptados, ficou evidente que criminosos buscavam atender também a consumidores de alto poder aquisitivo, exigindo que as embalagens estivessem “perfeitas”, pois os clientes eram perceptivos quanto à procedência dos produtos.
O caso expõe falhas no controle da venda de bebidas e coloca luz sobre um problema que, apesar de antigo, ganhou novo fôlego nos últimos anos. A Secretaria Estadual de Saúde reforçou o alerta para que consumidores redobrem a atenção ao consumo de bebidas destiladas, especialmente aquelas de origem duvidosa ou vendidas fora do comércio formal. Governo e forças policiais prometem seguir com ações rígidas de fiscalização e responsabilização penal de quem se envolve com esse tipo de crime. O recado das autoridades ao criminoso é direto: “quem envenena a população com lucro sujo vai ser responsabilizado”.

