Em uma mobilização histórica, o movimento indígena brasileiro, com o suporte do governo federal, assegurou uma das maiores participações de povos originários já registradas em conferências climáticas internacionais. Quase 400 lideranças indígenas estiveram presentes nos espaços oficiais de negociação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA), enquanto cerca de 3 mil indígenas, incluindo representantes de povos tradicionais da América Latina, África e Ásia, estiveram alojados na Aldeia COP, instalada na capital paraense. Ao todo, estima-se que 5 mil indígenas circularam pela cidade durante o evento.
A Aldeia COP, situada na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará, no bairro Terra Firme, foi estruturada especialmente para acolher e garantir a participação dos povos indígenas com instalações que incluíram alojamentos, palco para apresentações culturais, feira de bioeconomia, espaços para debates e uma casa espiritual voltada à prática de rituais e medicina ancestral. O local passou por melhorias para adequar-se às necessidades dos indígenas e se tornou o centro simbólico da resistência e da voz indígena na COP30.
Durante a abertura da AldeiaCOP, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, destacou a importância da presença indígena para a proteção da Amazônia, alertando que “proteger essa floresta custa vidas” e que a solução para a crise climática não será possível sem a participação dos povos originários. Ela ressaltou ainda que a Amazônia sofre com violações decorrentes do uso predatório da terra e da natureza, reforçando que o combate à destruição ambiental está diretamente ligado à defesa dos direitos e territórios indígenas.
A articulação para essa ampla presença foi inédita e contou com a criação do Círculo dos Povos, presidido pela ministra Sônia Guajajara, que ampliou a capacidade de escuta e a inclusão das demandas indígenas, tradicionais e afrodescendentes nas negociações. Paralelamente, o Ministério dos Povos Indígenas promoveu o Programa Kuntari Katu, capacitando lideranças para atuarem nos complexos debates internacionais sobre mudanças climáticas.
Além da participação destacada nos painéis oficiais e debates na COP30, os indígenas também fizeram reivindicações concretas, como a homologação de territórios, o combate ao desmatamento, a proteção de seus modos de vida e o direito ao acesso direto aos recursos financeiros para combater as mudanças climáticas. Entre as propostas defendidas está a destinação de no mínimo 20% dos fundos do Fundo Florestas Tropicais para Sempre às comunidades indígenas e tradicionais, justificativa dado que, atualmente, esse grupo recebe apenas 1% dos recursos globais destinados à mitigação climática.
A COP30 em Belém marcou, sem precedentes, a inclusão dos povos indígenas na pauta climática mundial, destacando o papel desses povos como guardiões da biodiversidade e da maior floresta tropical do planeta. Essa atuação reforça a luta por justiça territorial e social, condição essencial para uma verdadeira justiça climática, segundo os próprios povos originários e organizações que representaram suas vozes no evento.

