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Tradição dos Juliōes na produção de máscaras de Olinda chega ao Rio

### Tradição Centenária das Máscaras de Olinda Ganha Destaque no Rio de Janeiro

Rio de Janeiro – A vibrante tradição da produção de máscaras de carnaval de Olinda, Pernambuco, chega ao Rio de Janeiro por meio da família Vilela, que perpetua há quatro gerações o legado de Julião Vilela, artesão nascido na cidade no final do século 19. O Bazar Artístico de Julião das Máscaras, fundado por ele, continua sendo o coração dessa arte popular, com peças icônicas como a La Ursa, feita de papel machê misturado com goma de mandioca, que encanta foliões e turistas nas ruas lotadas do carnaval olindense.

Mateus Vitor Santos Vilela, de 27 anos, representa a quarta geração dessa linhagem. Filho de João Dias Vilela Filho, neto de João Dias Vilela e bisneto do patriarca Julião, Mateus aprendeu o ofício observando o pai e mantém viva a produção no ateliê em Varadouro, próximo ao bazar na Avenida Joaquim Nabuco, em Guadalupe. As máscaras, especialmente a La Ursa – a mais conhecida e versátil, usada por crianças e adultos –, são vendidas durante a folia para desfiles de troças, maracatus e blocos, ao lado de bonecos gigantes como o Homem da Meia-Noite, que entrega a chave simbólica do carnaval à Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense.

A exposição “Entre máscaras e gigantes: Os Juliões do carnaval de Olinda”, inaugurada em 11 de dezembro no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), no Museu de Folclore Edison Carneiro, no Catete, traz mais de 100 peças da família, incluindo máscaras à venda por preços entre R$ 100 e R$ 250. Na abertura, João Dias Vilela Filho, de 65 anos, seu filho Mateus e o colaborador Anderson Ezequiel Leite participaram de uma oficina de máscaras, das 14h30 às 16h30, e posaram para fotos ao lado das obras. A mostra, parte do programa Sala do Artista Popular (SAP), fica em cartaz até 25 de fevereiro de 2026, com visitação de terça a sexta das 10h às 18h, e fins de semana e feriados das 11h às 17h. Fotos e vídeos da premiada fotógrafa Mirielle Batista Misael documentam o processo de criação no ateliê familiar.

João Dias Vilela Filho, o único dos cinco irmãos a seguir a tradição, começou aos 12 anos ajudando o pai, que sustentava a família com o artesanato. Ele substituiu o pai como professor de artes plásticas em escolas municipais de Olinda quando este adoeceu, garantindo uma carteira assinada até a aposentadoria, sem abandonar as máscaras. “Nada no mundo é fácil, tem que insistir. Tem muita gente que no meio do caminho desiste, mas se atreve porque tem que ter dedicação total”, recorda João em entrevista à Agência Brasil. “Já levei muito puxão de orelha para fazer. Meu pai falava ‘não está certo, mas você faz melhor’ e assim eu comecei a aprender.”

Aos 65 anos, João enfatiza a paciência na transmissão do conhecimento: “Se você disser a um menino que aquilo ali está feio, ele vai para casa e não volta mais. Tem que dizer que ele faz melhor.” Julião Vilela, o fundador, produziu mais de 50 bonecos gigantes, mamulengos e brinquedos de madeira, além de participar do Pastoril na Festa de Reis. Seu filho João Dias, nascido em 1924, expandiu o bazar na garagem de casa, vendendo confetes, pistolas d’água e adereços carnavalescos – prática mantida até hoje pela família.

Mateus, apaixonado pela folia, afirma que “carnaval é algo que entra no sangue da gente”. O processo inclui moldes de gesso cobertos de papel machê, finalizados com tinta vermelha na boca e branca nos olhos. A exposição no Rio não só exibe as máscaras, mas resgata o universo simbólico do carnaval pernambucano, aproximando o público dessa herança que resiste ao tempo com dedicação e aperfeiçoamento constante.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)

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