A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolveu estudos visando a obtenção de protetor solar de baixo custo a partir de duas plantas fitoterápicas de fácil acesso e cultivo, Mentha x villosa e Plectranthus amboinicus, popularmente conhecidas, respectivamente, como hortelã da folha miúda e hortelã da folha grossa. Além da atividade fotoprotetora, os pesquisadores da Instituição conseguiram caracterizar a atividade antioxidante do material obtido do extrato dessas plantas.
O estudo desenvolvido na UFPB sobre as atividades fotoprotetoras envolvendo essas duas plantas é inédito, destacou o Prof. Josean Fechine Tavares, docente do Departamento de Ciências Farmacêuticas e do Laboratório Multiusuário de Caracterização e Análise da UFPB. A pesquisa nasceu dentro do projeto do Instituto Nacional de Ciência Tecnologia (INCT–RENNOFITO), do governo federal, uma Rede Norte Nordeste de Fitoprodutos que é coordenado pelo Prof. Dr. Marcelo Sobral da Silva e possui sede na UFPB.
O projeto tem avançado na busca por fotoprotetores naturais. Além do Prof. Josean, participaram da pesquisa Juliana de Medeiros Gomes e Márcio Vinícius Cahino Terto, do Programa de Pós-Graduação em Produtos Bioativos Naturais e Sintéticos da UFPB, além do docente Sócrates Golzio dos Santos.
Vários fatores impulsionaram a equipe da UFPB a buscar na natureza produtos com essa atividade fotoprotetora, inclusive com menor custo, conforme explicou o docente.
“É um problema de saúde pública, nós temos uma incidência solar muito forte na região, um alto índice de câncer de pele e uma baixa utilização de produtos com atividade fotoprotetora, cujo acesso é bastante difícil principalmente para a população de baixa renda. Um dos objetivos é tornar acessível um protetor bem mais barato do que os tradicionais sintéticos que estão no mercado”, contou Prof. Josean.
Por meio de testes in vitro, os pesquisadores avaliaram o teor dos componentes químicos presentes nas duas ervas e, por meio da medição do fator de proteção solar, obtiveram resultado bastante promissor. “Recorrendo à legislação, um produto, para ser considerado bom, tem um fator de proteção solar maior ou igual a seis. Os nossos, produzidos a partir dessas plantas, dobra esse valor, com um FPS em média de 12, bem acima do que em resolução estabelecida pela Anvisa”, informou o docente.
O estudo rendeu um artigo publicado em janeiro deste ano pela revista Pharmaceutics, do Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI). Além da atividade fotoprotetora, outra ação agrega valor a esses produtos almejados pelos pesquisadores: foram detectadas suas atividades antioxidantes, característica muito buscada atualmente em protetores solares porque combate o envelhecimento.
Além disso, a pesquisa também buscou avaliar as alterações sazonais nas atividades fotoprotetora e antioxidante e a influência de fatores como níveis de precipitação e incidência de radiação solar. “As plantas aqui da nossa região, por essa particularidade de incidência solar maior, têm uma tendência de ter uma produção de fenólicos bem maior; a produção desse tipo de substância é um mecanismo de defesa e de proteção”, esclareceu o docente Josean Fechine Tavares.
O pesquisador Márcio Vinícius Cahino Terto ressaltou os potenciais do estudo e as perspectivas de avanço. “Os nossos fotoprotetores, além de ter uma proteção contra UVB, também tem uma banda de proteção UVA – ainda falta a gente fazer os testes do UVA mas tem essa possibilidade – e ele também possui ação antioxidante, podendo ter, no futuro, uma relação em fotoproteção em cápsula, ou seja, tem esse caminho que pode ser percorrido no futuro”, explicou Márcio.
Além de todos esses aspectos, também é importante o fator ecológico. Os protetores solares encontrados no mercado geralmente são produzidos a partir de compostos sintéticos, enquanto os produtos naturais conseguem ser menos agressivos ao meio ambiente, conforme explicou a pesquisadora Juliana de Medeiros.
A próxima etapa do estudo será a formulação, incorporando o material vegetal em uma base farmacêutica desenvolvida pela equipe, como também o trabalho farmacotécnico de apresentação, bem como outros estudos in vitro e in vivo para complementar a eficácia do material.
“A ideia é gerar um produto simples, com apresentação farmacêutica e com incorporação em bases farmacêuticas o mais simples possíveis, porque a ideia é fazer isso chegar à população que mais precisa, com baixo custo. Principalmente na região semiárida do Estado, você tem uma alta incidência solar, praticamente todos os dias do ano, com alto índice de radiação solar, mas com uma cultura de não uso de ferramentas farmacêuticas para proteção, tanto por questões culturais como financeiras. A incidência de câncer de pele é altíssima nessas regiões”, observou o Prof. Josean.
Reportagem: Aline Lins
Fotos: Angélica Gouveia