### Alerta para a Saúde Mental dos Agentes Penitenciários: Pesquisa Revela Depressão em 10,7% e Ansiedade em 20,6%
Brasília – Uma pesquisa inédita com 22,7 mil profissionais do sistema penitenciário brasileiro, realizada entre 2022 e 2024, expõe um quadro preocupante de desgaste físico e emocional entre os agentes que atuam nos presídios do país. Pelo menos 10,7% dos servidores tiveram diagnósticos de depressão, enquanto 20,6% relataram transtorno de ansiedade e 4,2% transtorno de pânico. O estudo, promovido pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é o maior já feito sobre o tema e destaca os desafios invisíveis enfrentados por esses trabalhadores essenciais à segurança pública.
Os mais de 100 mil agentes penitenciários brasileiros são responsáveis pela custódia de cerca de 900 mil pessoas privadas de liberdade, incluindo líderes de facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). Nesse ambiente de alta tensão, 46,7% dos profissionais admitiram sentir medo relacionado ao trabalho nas últimas duas semanas, com 34,3% relatando exaustão frequente e 28,1% irritação recorrente. Além disso, 25% se declaram “no limite”, e 18,6% avaliam sua saúde mental como ruim, enquanto 4,3% a consideram péssima. Fatores como ritmo intenso de trabalho, exigências emocionais e físicas, superlotação prisional e exposição constante a riscos contribuem para esse cenário, agravado por relatos de assédio moral em 40,2% dos casos, assédio sexual em 9,2%, discriminação racial em 14,1% e de gênero em 13,5%.
No campo das doenças físicas, os números também impressionam: 18,1% dos agentes sofrem de hipertensão, 12,5% de obesidade e 12,3% de problemas ortopédicos, como dores musculares e lesões associadas ao sedentarismo e ao estresse. Apesar desses indicadores alarmantes, há sinais positivos de satisfação: 15,9% se dizem “muito satisfeitos” com o trabalho, e 59,3% “satisfeitos”. No entanto, a valorização social é um ponto fraco, com 50,7% achando que a sociedade “poucas vezes” reconhece sua importância e 33% sentindo-se “nunca” valorizados.
Diante dos resultados, o secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, defendeu a urgência de políticas estruturadas de cuidado. “A partir deste diagnóstico, consolidamos um compromisso: aprimorar as ações já iniciadas, ampliar o cuidado e garantir que cada servidor tenha as condições necessárias para exercer sua função com dignidade e qualidade”, afirmou ele em nota oficial. O diretor de Políticas Penitenciárias da Senappen, Sandro Abel Sousa Barradas, reforçou que medidas como credenciamento de psicólogos e psiquiatras, salas integrativas com equipamentos de relaxamento e ações de cidadania em saúde são essenciais para melhorar o bem-estar, a valorização e o desempenho da categoria.
A pesquisa “Cenários da Saúde Física e Mental dos Servidores do Sistema Penitenciário Brasileiro” reforça a necessidade de suporte institucional para mitigar o estresse ocupacional, o burnout e outros transtornos, promovendo não só a saúde dos agentes, mas também a eficiência do sistema prisional como um todo.

