**Brasil propõe pacto global para enfrentar incêndios florestais como prioridade climática**
Na abertura da Pré-COP, reunião preparatória para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Brasília, o Brasil colocou no centro do debate internacional um desafio urgente: a criação de uma resposta global coordenada para enfrentar incêndios florestais. A proposta, apresentada a representantes de 67 nações, chama a atenção para a escalada de eventos extremos, agravados pelas mudanças climáticas, e propõe um novo modelo de cooperação internacional.
O secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), André Lima, trouxe dados impactantes: só no ano passado, o Brasil teve 35 milhões de hectares de florestas, campos, cerrado e pastos consumidos pelo fogo. Desse total, 6 milhões de hectares foram atingidos apenas na Amazônia, área maior do que países como Bélgica ou Suíça. O cenário expõe a dimensão do problema, mas também a responsabilidade compartilhada entre nações para buscar soluções eficazes.
O plano brasileiro pretende ir além das respostas convencionais. Durante sua fala, Lima defendeu a adoção de um código de conduta robusto para assegurar que o combate aos incêndios florestais seja tratado como prioridade climática global, com ações integradas de prevenção, preparação, resposta, recuperação e uso ecológico do fogo. A proposta reconhece ainda o papel fundamental dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, cujo conhecimento ancestral é fundamental para o manejo sustentável do território e do fogo.
O chamado ao acordo será formalmente lançado durante a COP30, em Belém, em 2025. A ideia é que países de todos os continentes adiram ao pacto, comprometendo-se com medidas concretas para reduzir riscos, fortalecer a resiliência dos ecossistemas e enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, como secas extremas e elevação das temperaturas. A proposta sugere que cada nação se torne signatária de um compromisso internacional cujo foco é a gestão integrada do fogo, reconhecendo que o problema é global e não pode ser solucionado de forma isolada.
O embaixador Maurício Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, reforçou a necessidade de uma resposta multilateral. “O aquecimento global desafia a todos e demanda uma ação conjunta. Por isso, propomos esta mobilização internacional para gestão do fogo.” O tom foi de urgência: a frequência, a intensidade e a imprevisibilidade dos incêndios aumentam a cada ano, exigindo uma reação à altura.
O apoio ao plano veio de lideranças globais. O presidente da COP29, Mukhtar Babayev, presente no encontro, ressaltou a importância simbólica de sediar a próxima rodada de negociações na Amazônia, reconhecendo a região como plataforma estratégica para o avanço de políticas de resiliência contra incêndios florestais. “Os eventos extremos se tornam mais comuns e graves. O encontro na Amazônia dará visibilidade à causa e ao compromisso dos países”, afirmou.
A proposta brasileira foi recebida com otimismo, mas também com o reconhecimento de que o caminho para um pacto global contra incêndios será desafiador. A COP30 em Belém marcará o início desse esforço coletivo, que pretende coordenar recursos, tecnologia e conhecimento em prol da proteção dos ecossistemas e das populações mais vulneráveis. O objetivo é claro: transformar o combate aos incêndios florestais em um dos pilares da agenda climática internacional, com participação ativa de governos, comunidades locais e sociedade civil.
O desafio exposto em Brasília vai além da retórica. Exige vontade política, investimento e cooperação técnica entre países, além do respeito às práticas tradicionais que protegem a biodiversidade. Ao propor esse pacto, o Brasil assume a liderança em um debate urgente, mas também sugere que a solução para os incêndios – cada vez mais frequentes, severos e devastadores – está no trabalho conjunto de toda a comunidade global.

