A decisão dos Estados Unidos de reduzir as tarifas de importação de cerca de 200 produtos alimentícios foi recebida com cautela pelo setor produtivo brasileiro. Embora a medida indique uma disposição para negociações, o alívio é considerado pequeno diante da manutenção da sobretaxa adicional de 40% imposta pelo governo Donald Trump no fim de julho. Para a maioria dos setores afetados, o principal entrave continua sendo essa sobretaxa, que mantém o Brasil em desvantagem competitiva frente a outros países exportadores.
A medida beneficia diretamente 80 itens que o Brasil vende aos Estados Unidos, mas a sobretaxa de 40% continua a afetar a maior parte dos produtos brasileiros. Apenas quatro produtos passam a ter isenção completa de tarifas para os Estados Unidos: três tipos de suco de laranja e a castanha-do-pará. Os outros 76, entre os quais cafés não torrados, cortes de carne bovina, frutas e hortaliças, continuam sujeitos à tarifa de 40%. Na avaliação das entidades do setor, o Brasil precisará intensificar o diálogo diplomático para buscar a eliminação completa das tarifas extras e restaurar condições de competitividade no mercado norte-americano.
As entidades industriais brasileiras avaliaram a medida como um gesto positivo, mas insuficiente. Segundo análise da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os 80 itens beneficiados pela suspensão da tarifa de 10% representaram US$ 4,6 bilhões em exportações em 2024, cerca de 11% do total enviado pelo Brasil aos EUA. A CNI afirma que a manutenção da sobretaxa de 40% mantém o Brasil em desvantagem frente a concorrentes que não enfrentam as mesmas barreiras e reforça a urgência no avanço das negociações. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) também considera o corte um avanço limitado, destacando que produtos importantes da pauta de exportação do estado, como carnes e café, continuam afetados.
No setor de carnes, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) teve a reação mais favorável, destacando o retorno de previsibilidade ao comércio bilateral. A associação afirmou que a redução “reforça a confiança no diálogo técnico entre os dois países” e reconhece a importância da carne do Brasil, marcada pela qualidade, pela regularidade e pela contribuição para a segurança alimentar mundial. Segundo a entidade, a tarifação sobre carne bovina brasileira caiu de 76,4% para 66,4%, com a retirada da tarifa global de 10%. Antes do governo de Donald Trump, os Estados Unidos taxavam o produto em 26,4%.
O setor cafeeiro mantém cautela e aguarda esclarecimentos sobre o alcance da redução. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) considera necessária uma análise técnica adicional. Produtor de metade do café tipo arábicas do planeta, o Brasil fornece cerca de um terço dos grãos aos Estados Unidos. No caso brasileiro, a concorrência com outros grandes exportadores de café representa o principal obstáculo. A tarifa estadunidense para os grãos brasileiros caiu de 50% para 40%, mas as tarifas foram zeradas para o produto colombiano e praticamente zeradas para o café vietnamita. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que o esforço agora deve ser para melhorar a competitividade do café brasileiro frente aos concorrentes.

