Nas ruas de Belém, bandeiras e camisas da Palestina destacam o engajamento de movimentos sociais brasileiros com a causa palestina durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Paralelamente ao evento oficial, uma coalizão integrada por representantes palestinos tem ocupado espaços de debate na Cúpula dos Povos, sediada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), onde a interlocutora Salma Barakat, coordenadora do movimento Stop the Wall, denuncia a ocupação israelense e o impacto do conflito na vida dos palestinos.
Salma Barakat, residente em Jerusalém, destaca que o movimento Stop the Wall atua há 20 anos para combater o muro do apartheid que separa palestinos e está associado à colonização e genocídio em Gaza. Ela explica que Israel não reconhece a colonização que pratica, consideranda os palestinos como terrorismo e afirmando que os colonizadores são os donos originais da terra, numa narrativa semelhante à que sustentou o regime do apartheid na África do Sul.
A conexão entre a luta palestina e a emergência climática na COP30 está no cerne da mensagem de Salma. Ela denuncia a destruição ambiental provocada pelo governo israelense, que, segundo ela, rouba recursos naturais como a água dos palestinos enquanto se promove internacionalmente como um país de soluções verdes. Salma aponta a continuidade dos mesmos interesses corporativos predatórios que atacam territórios indígenas na América Latina e a Palestina.
Durante sua passagem pelo Brasil, Salma identificou fortes paralelos entre a resistência dos povos indígenas amazônicos e a luta palestina. Ambos os povos enfrentam o desrespeito ao seu direito à terra, açambarcamento territorial por governos e corporações, e tentativas de deslocamento forçado. Ela ressalta que a conexão espiritual e cultural com a terra é fundamental para esses grupos, tornando a resistência comum uma estratégia política e simbólica. Além disso, há uma articulação política que defende o fim do agronegócio devastador, da indústria militar e das fontes de energia suja como forma de beneficiar ambas as lutas.
No aspecto prático, a Coalizão Palestina na COP30 organizou uma petição solicitando a expulsão de Israel da conferência, questionando a legitimidade de um Estado que promove violações contra os palestinos participar de debates sobre justiça climática. Salma afirmou que o recuo do tamanho da delegação israelense evidencia o impacto do movimento. Também fazem parte da mobilização um esforço para romper laços econômicos e comerciais entre o Brasil e Israel, combatendo a normalização que, para eles, equivaleria à aceitação dos crimes contra a humanidade perpetrados na Palestina.
A pressão desses ativistas e a presença da causa palestina nos debates da COP30 trazem uma perspectiva ampliada sobre as intersecções entre justiça social, direitos humanos, descolonização e ambientais, ampliando a compreensão das crises globais e buscando apoio internacional para uma solução que respeite os direitos e a dignidade do povo palestino.

