O número de trabalhadores sindicalizados no Brasil interrompeu uma sequência de mais de dez anos de queda e apresentou aumento de 812 mil pessoas em 2024, elevando a taxa de sindicalização para 8,9% dos 101,3 milhões de trabalhadores ocupados no país. Com isso, o total de sindicalizados chegou a 9,1 milhões, crescimento de 9,8% em relação a 2023, ano em que a taxa foi a menor da série histórica iniciada em 2012. Apesar dessa recuperação, o contingente ainda está bastante abaixo dos 14,4 milhões registrados em 2012, correspondendo a uma redução de 36,8% em 12 anos.
A retração observada na última década esteve fortemente relacionada à reforma trabalhista de 2017, que extinguiu a contribuição sindical obrigatória, contribuindo para a queda acentuada no número de sindicalizados a partir daquele ano. O analista do IBGE William Kratochwill destaca uma correlação clara entre a implantação dessa lei e a diminuição dos filiados, indicando que a flexibilização das regras e a maior precarização dos contratos influenciaram negativamente na sindicalização.
O aumento de 2024, por sua vez, é interpretado como um possível sinal de retomada do interesse dos trabalhadores em se organizar para a defesa de seus direitos, sobretudo após atingir níveis historicamente baixos. O perfil dos novos sindicalizados mostra que a adesão é maior entre pessoas com mais de 30 anos — oito em cada dez novos filiados pertencem a essa faixa etária, com destaque para quem tem entre 40 e 49 anos. Já os jovens de 14 a 19 anos representam uma parcela muito pequena, evidenciando a pouca renovação na base dos sindicatos.
Por setores, a maior concentração de sindicalizados está na administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, com taxa de associação de 15,5%, seguida pela agricultura (14,8%) e indústria geral (11,4%). A sindicalização é mais expressiva entre trabalhadores com nível superior completo (14,2%) e no setor público (18,9%), enquanto é bem menor entre trabalhadores informais e por conta própria, evidenciando o impacto das formas de contratação na organização sindical.
A participação das mulheres nos sindicatos também tem aumentado ao longo dos anos, reduzindo a diferença em relação aos homens: em 2012, elas representavam 38,7% dos sindicalizados, e em 2024 essa proporção subiu para 42,4%. A taxa de sindicalização feminina permaneceu relativamente mais estável que a masculina, acompanhando o recente crescimento do número total de associados.
Em contraponto à recuperação da sindicalização, o número de trabalhadores vinculados a cooperativas segue em queda, atingindo em 2024 seu menor patamar histórico, com 1,3 milhão de associados, o que corresponde a 4,3% dos trabalhadores, contra 6,3% em 2012.
Esses dados são frutos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada pelo IBGE, que monitora desde 2012 as características do mercado de trabalho no Brasil, exceto os anos de 2020 e 2021 devido às dificuldades impostas pela pandemia de covid-19. A pesquisa revela uma nova fase no movimento sindical brasileiro, marcada por uma retomada gradual da sindicalização após anos de retração.

