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“Dia amanheceu triste”: artistas brasileiros homenageiam Jimmy Cliff

# Jimmy Cliff: Uma Lenda que Deixa o Mundo em Luto

O mundo da música acordou de luto nesta segunda-feira, 24 de novembro, com a morte do cantor e compositor jamaicano Jimmy Cliff, aos 81 anos. Nascido como James Chambers em 30 de julho de 1944, em Sommerton, Jamaica, Cliff faleceu em decorrência de uma convulsão causada por pneumonia, conforme confirmado por sua esposa, Latifa Chambers, através de uma publicação no perfil oficial do artista no Instagram.

A morte de Jimmy Cliff marca o fim de uma era para a música global. Ícone do reggae, ator e ativista, Cliff deixa uma obra que atravessou fronteiras, inspirou gerações e encontrou no Brasil um lar afetivo e musical profundamente significativo. Ao tempo de sua morte, era o único músico reggae vivo a ser detentor da Order of Merit, a mais alta honraria concedida pelo governo jamaicano por realizações nas artes e ciências.

Jimmy Cliff começou sua carreira musical ainda criança, cantando em feiras e eventos locais em sua Jamaica natal. Aos apenas 14 anos, mudou-se para Kingston para se dedicar profissionalmente à música e logo ganhou projeção com sucessos como “Hurricane Hattie” e “Miss Jamaica”. Sua trajetória precoce no cenário musical jamaicano rapidamente o estabeleceu como uma força emergente no gênero que ainda estava em desenvolvimento. Em 1965, Cliff se mudou para a Inglaterra e assinou com a Island Records, a mesma gravadora que posteriormente contrataria Bob Marley, marcando o início de sua ascensão internacional.

Sua carreira decolou de verdade no final dos anos 1960. Seu álbum de estreia internacional, “Hard Road to Travel”, lançado em 1967, recebeu excelentes críticas e incluiu “Waterfall”, que se tornou um sucesso no Brasil e venceu o Festival Internacional da Canção. Nos anos 1970, a popularidade de Cliff cresceu exponencialmente, especialmente com a música “Wild World” de Cat Stevens, que alcançou os dez primeiros lugares na parada britânica. Mas foi em 1972, com sua participação no filme “The Harder They Come”, dirigido por Perry Henzel, que Cliff verdadeiramente mudou a história da música. Atuando como um rebelde armado no drama policial, sua presença na tela e sua contribuição à trilha sonora foram decisivas para levar o reggae aos Estados Unidos e para audiências globais de forma sem precedentes.

Durante os anos 1980, Cliff continuou sua jornada criativa. Seu álbum “Cliff Hanger”, lançado em 1985, venceu o Grammy Award para Melhor Álbum Reggae. Nesse mesmo ano, contribuiu para “Sun City”, uma canção de protesto contra o apartheid na África do Sul, escrita e composta por Steven Van Zandt e gravada por Artists United Against Apartheid. Em 1990, apareceu no filme “Marked for Death”, performando “John Crow” com a Jimmy Cliff Band. Sua gravação de “You Can Get It If You Really Want” foi utilizada como hino de campanha pela Frente Sandinista de Libertação Nacional na eleição de 1990 na Nicarágua.

A conexão de Cliff com o Brasil foi particularmente profunda e duradoura. Tudo começou em 1968, com sua participação no Festival Internacional da Canção no Rio de Janeiro. Foi no Brasil, em 1969, que compôs “Wonderful World, Beautiful People”, um de seus maiores sucessos internacionais. Gravou o LP “Jimmy Cliff in Brazil” e, nos anos 1980, tornou-se uma figura familiar no país, realizando uma memorável turnê com Gilberto Gil. A influência de Cliff no Brasil transcendeu as fronteiras do Rio de Janeiro, chegando especialmente forte no Maranhão, onde o reggae se tornou parte constitutiva da cultura local.

A carreira de Cliff ressurgiu com força no século XXI. Em 2012, o álbum “Rebirth”, produzido por Tim Armstrong do Rancid e Operation Ivy, conquistou o Grammy Award para Melhor Álbum Reggae e apareceu na lista dos “50 Melhores Álbuns de 2012” da Rolling Stone. O álbum levou Cliff a apresentações impactantes em festivais como Coachella e Bonnaroo, provando que sua relevância artística permanecia intacta mesmo após décadas de carreira.

A notícia da morte de Cliff repercutiu fortemente entre artistas brasileiros, que destacaram imediatamente a importância do cantor para a música mundial e para a formação da identidade afrodiaspórica no país. O cantor e compositor Gilberto Gil, nas suas redes sociais, lembrou a influência direta do jamaicano em seu trabalho e no surgimento do reggae moderno. “Jimmy Cliff influenciou e seguirá influenciando minha música. Obrigado por tanto”, escreveu Gil, destacando ainda que “Bob Marley estoura nos rádios depois do Cliff, inclusive pela mesma gravadora”, situando Cliff como um dos pilares originais do gênero.

O cantor e compositor Chico César emocionou-se ao lembrar a importância histórica e política do jamaicano. “Hoje nós perdemos um mestre, um mestre da música afrodiaspórica, Jimmy Cliff. Jimmy Cliff, junto com Peter Tosh e Bob Marley, instaurou uma revolução – uma revolução que sai da Jamaica representando o sentimento de todos os pretos emigrados nas Américas, e essa música se torna sucesso no mundo inteiro”, declarou Chico César. Ele também compartilhou seus encontros pessoais com o artista em festivais pela Austrália, Nova Zelândia e Singapura, descrevendo Cliff como “uma criatura muito doce, muito educada, que amava o Brasil”.

No Maranhão, onde o reggae é parte constitutiva da cultura local, a morte de Cliff ganhou dimensão especial. Para o jornalista e DJ Ademar Danilo, diretor do Museu do Reggae, a perda toca diretamente a identidade musical do estado. “O dia amanheceu triste”, resumiu ele, antes de explicar a importância do artista para a história do reggae no Brasil. Ademar Danilo lembrou que o Maranhão foi um dos primeiros lugares fora da Jamaica a adotar a música de Cliff como trilha de sua vida cotidiana, transformando suas composições em hinos populares que atravessam gerações.

O legado de Jimmy Cliff permanece inescapável. Suas composições imortais como “I Can See Clearly Now”, “Wonderful World, Beautiful People”, “You Can Get It If You Really Want” e “The Harder They Come” tornaram-se hinos atemporais, cantados em todo o mundo. Artistas desde os Rolling Stones e Elvis Costello até Annie Lennox e Paul Simon buscaram colaborações com ele, enquanto Bruce Springsteen, Willie Nelson, Cher, New Order e Fiona Apple gravaram covers notáveis de suas obras. Bob Dylan proclamou famosamente que “Vietnam” era “a maior canção de protesto jamais escrita”.

Cliff foi reconhecido internacionalmente como um dos dois únicos indutados jamaicanos no Rock and Roll Hall of Fame, em excelente companhia com Bob Marley. Sua carreira no cinema também deixou marca, com aparições em filmes como “Club Paradise” e “Muscle Shoals”, além de sua performance icônica em “The Harder They Come”.

Considerado um dos músicos mais celebrados da Jamaica, Jimmy Cliff é creditado por ter ajudado a popularizar a música reggae internacionalmente. Foi descrito como alguém que, por um breve período, rivalizou com Bob Marley como o músico mais proeminente do gênero. O Rock and Roll Hall of Fame o descreveu como “o primeiro campeão do reggae”, enquanto David Katz, escrevendo para The Guardian, o chamou de um “embaixador itinerante que apresentou a música e a cultura de sua ilha a audiências por todo o globo”.

Com a morte de Jimmy Cliff, o mundo perdeu mais do que um cantor extraordinário. Perdeu um revolucionário cultural que usou a música para cruzar continentes, unir povos e expressar as aspirações de comunidades marginalizadas. Seu impacto na música global, especialmente na forma como o reggae foi compreendido e celebrado fora da Jamaica, permanecerá como seu maior legado. No Brasil, particularmente no Maranhão, suas canções continuarão ecoando nas ruas, nos corações e nas memórias de gerações que encontraram em sua música a voz de suas próprias vidas e lutas.

Fonte: Agência Brasil – Matéria Original (Clique para ler)
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