O economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Columbia e integrante do conselho consultivo de finanças da presidência brasileira da COP30, destaca que o multilateralismo é essencial para solucionar o desafio do financiamento climático dos países em desenvolvimento. Segundo ele, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) representa o principal espaço para propor, discutir e desenvolver soluções nesse campo. Scheinkman ressalta que, antes de definir valores específicos para o financiamento, é necessário estabelecer etapas como metas claras e estratégias de implementação. Por isso, o valor de US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento climático internacional, frequentemente citado nas negociações multilaterais, pode não refletir um montante real ou definitivo.
Na visão do economista, o objetivo final é atingir o net zero, ou neutralidade nas emissões de gases de efeito estufa, o que deve orientar a definição dos projetos mais eficazes e economicamente viáveis. Ele aponta ainda que obstáculos políticos e ideológicos, como os existentes em países como os Estados Unidos, podem comprometer o engajamento global. Entretanto, Scheinkman vê oportunidades para atrair investimentos por meio da geração de créditos de carbono em regiões com vastas áreas naturais, como as florestas tropicais, especialmente em países em desenvolvimento. Por exemplo, na África, onde o uso de lenha para cozinhar gera altos custos ambientais e de saúde, eliminar essa prática é barato em termos financeiros, porém inviável devido à falta de recursos, o que demonstra a complexidade do financiamento climático envolvendo adaptação e mitigação.
Um dos enfoques centrais do economista é o reflorestamento em larga escala, que ele considera a solução climática mais barata e eficaz atualmente disponível para capturar carbono em escala significativa. Apesar da existência de tecnologias emergentes, nenhuma delas é tão eficiente e acessível quanto a restauração das florestas tropicais, que desempenham papel fundamental na captura de carbono e na criação de espaços adicionais na atmosfera.
A construção de um sistema multilateral robusto, que viabilize a transferência de recursos financeiros e tecnológicos dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento, é vista como crucial para a implementação de políticas climáticas eficazes. Os fundos multilaterais desempenham papel estratégico ao canalizar esses recursos, impulsionar investimentos privados, fortalecer instituições e promover a justiça climática, reconhecendo as responsabilidades diferenciadas na crise climática conforme os acordos internacionais. Além disso, iniciativas inovadoras, como a proposta de compensação automática para países pobres em situação de desastre climático, estão sendo estudadas para oferecer apoio financeiro imediato a quem mais precisa, reforçando a necessidade de cooperação global que a COP30 busca consolidar.

