Na Paraíba, padre é denunciado por intolerância religiosa após debochar da morte de Preta Gil e atacar candomblé
Um episódio recente de intolerância religiosa ganhou repercussão na Paraíba após o padre Danilo César, da Paróquia de São José em Areial, fazer comentários polêmicos durante uma missa realizada no domingo passado (27/07). No momento da homilia, ele debochou da fé de Preta Gil, cantora que havia falecido na semana anterior, ao questionar sarcasticamente a eficácia dos orixás, entidades cultuadas nas religiões de matriz africana como o candomblé, que haviam sido invocados por Gilberto Gil, pai da artista.

Em transmissão ao vivo, o padre afirmou: “Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”. Em seguida, dirigiu-se aos fiéis desaconselhando o contato com “essas coisas ocultas” e citou o diabo em tom repreensivo, o que também gerou indignação.
Essas declarações geraram ampla reação negativa, incluindo repúdio formal da Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria de Souza, que registrou boletim de ocorrência contra o padre e protocolou denúncia no Ministério Público da Paraíba por intolerância religiosa. O presidente da Associação, Rafael Generino, destacou que a liberdade religiosa e a liberdade de expressão não justificam ataques ou humilhações contra outras crenças, e que as medidas legais cabíveis serão adotadas.
O vídeo com as falas do padre foi removido do canal da paróquia no YouTube e sua conta no Instagram foi desativada, mas circula amplamente nas redes sociais onde causou revolta e críticas públicas. Muitos internautas manifestaram repúdio e respeito às religiões de matriz africana, ressaltando o sofrimento da família Gil e a insensibilidade do sacerdote.
A Polícia Civil da Paraíba abriu inquérito para investigar o caso, ouvindo testemunhas e apurando a denúncia de intolerância religiosa, com possível enquadramento em racismo religioso, dado o contexto de ataque às crenças afro-brasileiras.
Em relação à Paraíba, o registro de casos de intolerância religiosa tem crescido, refletindo um aumento nas denúncias e na judicialização de casos. A Paraíba, em particular, tem se destacado no aumento de casos de racismo judicializados, com um crescimento de 286,7% em 2024 em comparação com 2023.
A intolerância religiosa, que envolve atos ofensivos contra pessoas por causa de suas crenças, rituais e práticas religiosas, pode ser denunciada pelo Disque 100, um serviço gratuito que funciona 24 horas por dia. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania também enfatiza a importância de denunciar violações do direito à liberdade religiosa e qualquer forma de discriminação.