Com mais de 23 milhões de contaminados pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) no mundo, a COVID-19 está longe de ser um consenso. Nesse cenário, formas de tratamento e até mesmo de contágio ainda são discutidas, como a recente polêmica envolvendo a importação de frangos. Afinal, há riscos de pegar a doença a partir de embalagens de alimentos? Sim e não, isso porque tudo depende das circunstâncias.
Nas últimas semanas, a prefeitura da cidade chinesa de Shenzhen alegou ter encontrado traços de coronavírus em embalagens de um lote de frango exportado pelo Brasil. Segundo as autoridades locais, a presença do agente infeccioso foi detectada em um controle de rotina pelo qual passam as importações. Muito provavelmente, a quantidade viral detectada não seria capaz de infectar uma pessoa, nem mesmo se o vírus conseguisse sobreviver à viagem.
Na ocasião, o Ministério da Agricultura brasileiro solicitou explicações sobre o caso à Administração Geral de Alfândega da China (GACC). A pasta também lembrou que “segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há comprovação científica de transmissão do vírus da COVID-19 a partir de alimentos ou embalagens de alimentos congelados”.
Qual é o risco de contágio?
Dentro do laboratório, em um ambiente ideal e controlado, é possível que células humanas sejam infectadas pelo coronavírus, encontrado em embalagens. Além disso, outros estudos (também conduzidos em laboratório) demonstraram que esse agente infeccioso pode sobreviver por horas e até dias em determinadas superfícies, como papelão e alguns tipos de plástico. Um terceiro fator que colabora com esse raciocínio é que o coronavírus se torna mais estável em temperaturas baixas, como em um ambiente refrigerado no qual se transporta alimentos congelados.
Por outro lado, cientistas se perguntam se essas hipóteses, traçadas a partir situações ideais para o contágio, poderiam ser replicados e com qual grau de eficácia fora dos laboratórios. Segundo o professor de Ciências Respiratórias da Universidade de Leicester, no Reino Unido, Julian Tang, as condições ambientais mudam rapidamente no mundo real, ou seja, o vírus não poderia sobreviver por tanto tempo.
Outro ponto destacado pelo professor de microbiologia da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, Emanuel Goldman, é que essas pesquisas utilizam amostras de até 10 milhões de partículas virais. Entretanto, o número dessas partículas em uma superfície, por exemplo, atingida por um espirro, é de menos de 100. Isso demonstra escalas bastante diferentes, o que impacta os reais riscos de transmissão.
“Na minha opinião, a chance de transmissão através de superfícies inanimadas é muito pequena, e apenas nos casos em que uma pessoa infectada tosse ou espirra diretamente em uma superfície — e outra pessoa toca ali pouco depois (dentro de uma a duas horas)”, pontua o professor Goldman.
Como o coronavírus infecta pessoas?
A maioria dos casos de contágio pelo coronavírus acontece a partir do contato direto com uma pessoa contaminada, em pequenas distâncias (menos de dois metros). Nesse cenário, o vírus pode ser transmitido através de gotículas de uma tosse, um espirro e até mesmo da fala. Para que o ciclo de contágio seja concluído, as partículas virais devem entrar pela boca ou nariz das pessoas próximas, sendo inaladas pelos pulmões, onde a infecção começará.
No caso do frango congelado e das amostras de coronavírus na embalagem, a teoria é de que um funcionário, contaminado com a COVID-19, trabalhava sem equipamentos de proteção, enquanto manuseava os alimentos. Em determinado momento, essa pessoa espirrou ou tossiu diretamente sobre a embalagem. Outra possibilidade é ter passado o vírus para o plástico depois de passar a mão no nariz, por exemplo. Para completar esse ciclo, depois de todo o processo de transporte, alguém deveria manusear os alimentos e se contaminar.
“Pode ser possível que uma pessoa contraia COVID-19 tocando em uma superfície ou objeto que contenha o vírus”, esclarece o Centro de Controle de Doenças (CDC) no site oficial. Só que o órgão de saúde norte-americano também ressalta que “esta não é considerada a principal forma de propagação do vírus”.
Para se proteger da COVID-19
Entre as principais formas de proteção contra a COVID-19, estão o distanciamento social e o uso de máscaras. Agora, quando o assunto são embalagens de alimentos, também não há necessidade de as desinfetar — mas “as mãos devem ser bem lavadas após manuseá-las e antes de comer”, explica a OMS.
Além disso, a organização também recomenda o uso de um desinfetante de mãos, como o álcool em gel 70%, antes de entrar em uma loja ou mercado. Da mesma forma, é essencial lavar bem as mãos, com água e sabão, por exemplo, quando retomar para casa, depois de manusear embalagens e armazenar os produtos. Sobre serviços de entrega e delivery, valem as mesmas indicações, desde que o entregador tenha boas práticas de higiene e não viole a embalagem.
Por BBC Brasil