‘Sem chance’: África do Sul diz que não retirará processo de genocídio contra Israel apesar de ameaças de Trump
“Defender nossos princípios às vezes tem consequências, mas permanecemos firmes: isso é importante para o Estado de Direito”, afirma o chanceler sul-africano Ronald Lamola ao Financial Times
“Defender nossos princípios às vezes tem consequências, mas permanecemos firmes: isso é importante para o Estado de Direito”, afirma o chanceler sul-africano Ronald Lamola ao Financial Times
A África do Sul prometeu não retirar o processo de genocídio movido contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), apesar das ameaças e do corte de ajuda por parte do governo Trump.
“Não há nenhuma chance” de a África do Sul desistir da ação protocolada em dezembro de 2023, declarou o ministro das Relações Exteriores, Ronald Lamola, ao Financial Times.
“Defender nossos princípios às vezes tem consequências, mas permanecemos firmes: isso é importante para o mundo e para o Estado de Direito”, acrescentou.

A África do Sul foi o primeiro país a levar Israel à CIJ por sua guerra em Gaza, classificada como genocida, que já deixou mais de 48 mil mortos e devastou o enclave. Um cessar-fogo, em vigor desde 19 de janeiro, permanece em curso.
Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva suspendendo a ajuda financeira à África do Sul em retaliação a uma nova lei de expropriação de terras, que Washington alega visar propriedades da minoria branca do país, e ao processo contra Israel na CIJ.
Além disso, os EUA acusam a África do Sul de colaborar com o Irã para “desenvolver acordos comerciais, militares e nucleares”.
“Os Estados Unidos não podem apoiar um governo que comete violações de direitos em seu próprio país ou que ‘minimiza a política externa dos Estados Unidos, colocando em risco a segurança nacional da nossa nação, de nossos aliados, parceiros africanos e interesses’”, afirma a ordem.
Em entrevista ao Financial Times, Lamola rebateu: “Temos um bom relacionamento com o Irã, mas não há nenhum programa nuclear conjunto nem qualquer comércio significativo.”
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, sancionou recentemente a lei de expropriação, que permite ao Estado desapropriar terras sem indenização quando for “justo, equitativo e de interesse público”. O governo defende que a legislação busca corrigir as injustiças do apartheid e classifica as acusações de Trump como mentiras, distorções e desinformação.
Segundo Ramaphosa, a única assistência recebida dos Estados Unidos refere-se ao financiamento para prevenção do HIV/AIDS.
Após a África do Sul ingressar com a ação na CIJ por supostas violações da Convenção do Genocídio de 1948 na Faixa de Gaza, diversos países se juntaram ao processo, incluindo Nicarágua, Colômbia, Cuba, Líbia, México, Espanha, Belize e Turquia.
Paralelamente, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza. Trump também impôs sanções ao TPI em represália às investigações contra autoridades israelenses.