TRADUÇÃO, revista TIME: Por dentro da vida bizarra de Bolsonaro na Flórida – o queridinho do movimento MAGA nos EUA

Por TIME | TRADUÇÃO: Pedro Galhardo

Há um mês, ele estava liderando o quinto maior país do mundo. Hoje, ele perambula pelos supermercados da Flórida, come frango frito sozinho em restaurantes fast-food e dá discursos para seus apoiadores na entrada da casa de um ex-campeão de UFC em um condomínio fechado ao sul de Orlando.

Foto: divulgação.

O ressurgimento de Jair Bolsonaro na Flórida é um espetáculo bizarro, mesmo para um estado com uma longa história de abrigar personagens excêntricos. O ex-presidente brasileiro, que se recusou a reconhecer sua derrota eleitoral em outubro, deixou o país rumo aos EUA em 30 de dezembro, dois dias antes da posse de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 8 de janeiro, seus apoiadores invadiram violentamente o Congresso brasileiro, o Supremo Tribunal e o Palácio do Planalto, enfrentaram a polícia e destruíram propriedades trazendo ecos perturbadores de outro ataque, o do Capitólio, perpetrado por apoiadores de Donald Trump.

Enquanto isso Bolsonaro, apelidado de “Trump dos Trópicos”, tem passado seu tempo a poucas horas de carro, através da rodovia Florida Turnpike, de seu antigo colega presidente. Enquanto Trump está acampado em sua propriedade à beira do lago, planejando as primeiras jogadas de sua próxima campanha presidencial, ainda não está claro o que Bolsonaro planeja durante sua estada no Estado do Sol. Seu perfil no TikTok transmite vídeos cuidadosamente selecionados e que já contam com quase 75 milhões curtidas, mostram famílias sorridentes vestindo camisetas da Seleção Brasileira, entregando cestas de pão, morangos, flores e Nutella, montagens acompanhadas de música emocionante e ainda mostram Bolsonaro abraçando crianças e longas filas de pessoas esperando tirar uma foto com ele.

O que o ex-presidente do Brasil está fazendo na Flórida, com seu país e seu próprio futuro legal envolvidos em turbulências? Seu visto original, pensado para ser uma designação A-1 destinada a diplomatas e chefes de Estado, expirou 30 dias depois do fim de seu mandato, na virada do ano. Bolsonaro então solicitou um visto de turista de seis meses para ficar nos EUA e está aguardando os “resultados”, disse Felipe Alexandre, um advogado brasileiro-americano que representa Bolsonaro, ao TIME. “Ele gostaria de se afastar por um tempo, clarear a cabeça e desfrutar a vida como turista nos Estados Unidos por alguns meses antes de decidir qual será seu próximo passo”, disse ainda Alexandre, em um comunicado por email.

A teoria dominante entre oponentes e apoiadores é de que o autoexílio de Bolsonaro é uma manobra para se evadir de problemas jurídicos. Bolsonaro, que, assim como Trump, culpou conspirações infundadas de fraude eleitoral por sua derrota, está enfrentando várias investigações que poderiam torná-lo inelegível ou resultar em uma sentença criminal e posterior prisão. Estas incluem acusações de que Bolsonaro – que ano passado prometeu “por Deus no céu, eu nunca vou para a prisão!” – vazou informações confidenciais, usou “milícias digitais” para coordenar campanhas de desinformação e atacou o sistema eleitoral do Brasil.

O STF também disse que investigaria sua participação na incitação das multidões que terminaram com fatídico 8 de janeiro, além disso, novas acusações surgiram esta semana de que assessores de Bolsonaro conspiraram para anular os resultados das eleições de outubro. “Ele está realmente fugindo, hein?”, tweetou Rogério Correia, um parlamentar que pertence ao Partido dos Trabalhadores, em 30 de janeiro.

“Este é um indivíduo que está basicamente tentando evitar investigações criminais procurando abrigo nos Estados Unidos”, disse Anna Eskamani, uma parlamentar estadual democrata que representa um distrito na área de Orlando. “Ele está se escondendo atrás de um visto de turista dos EUA.”

Até esta semana, Bolsonaro mantinha um perfil relativamente discreto desde sua chegada na Flórida. Agora, uma semana antes de seu sucessor chegar à Casa Branca para se reunir com o presidente Joe Biden, Bolsonaro parece pronto para quebrar o silêncio. “Tenho 67 anos e pretendo permanecer ativo na política brasileira”, disse ele na quarta-feira. Na sexta-feira, ele vai comparecer a um evento como principal palestrante, ao lado de Charlie Kirk, um ativista da direita americana, no campo de golfe de Trump em Miami.

As conexões entre os dois ex-presidentes vão além do vandalismo cometido em seus nomes. O filho de Bolsonaro, Eduardo, tem estreitas relações com a órbita de Trump, com o ex-estrategista político Steve Bannon, o conselheiro de comunicações Jason Miller e Donald Trump Jr., entre as figuras do MAGA (1) que se juntaram a ele na defesa de conspirações infundadas sobre fraude eleitoral generalizada no Brasil. Eduardo Bolsonaro já participou de eventos políticos americanos como a Conferência de Ação Política Conservadora e tem sido um convidado frequente de Mar-a-Lago, postando fotos de si mesmo com Trump, Trump Jr. e Jared Kushner.

(1) MAGA: Make America Great Again (em português: Torne a América Grande Novamente), abreviado como MAGA no inglês, é um slogan de campanha adotado em campanhas presidenciais nos Estados Unidos que originou-se durante a campanha presidencial de Ronald Reagan na eleição presidencial em 1980. Popularizado por Donald Trump durante a sua campanha presidencial em 2016.

Fonte: Wikipedia

Especialistas dizem que este não é o único motivo pelo qual Bolsonaro pode ter procurado refúgio na Flórida. Muitos ativistas da direita americana têm sido há muito tempo apoiadores expressivos de Bolsonaro. “Existe uma conexão muito forte entre grupos e movimentos da extrema-direita no Brasil e grupos da extrema-direita dos EUA, especialmente na Flórida”, diz Feliciano Guimarães, diretor acadêmico do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) no Rio de Janeiro. “A Flórida é um lugar onde esta conexão com grupos da extrema-direita brasileira é mais forte nos Estados Unidos”.

Influenciadores da extrema-direita americana são populares há muito tempo nas redes sociais brasileiras, diz Michele Prado, analista independente que estuda a extrema-direita brasileira e os movimentos digitais. Em alguns círculos, Bannon, o ativista conservador Ben Shapiro e o apresentador da Fox News Tucker Carlson são figuras bem conhecidas, cujos comentários são frequentemente traduzidos para o português.

“O núcleo do governo Bolsonaro foi formado em grande parte por indivíduos que foram inspirados e disseminados aqui no Brasil pelos conceitos produzidos pela extrema-direita americana”, diz Prado. Bannon, por exemplo, elogiou os apoiadores de Bolsonaro que atacaram Brasília no 8 de janeiro como “guerreiros da liberdade” e popularizou o #BrazilianSpring, um hashtag que “incitou a ação violenta e a tentativa de ruptura da ordem democrática aqui no Brasil através de uma revolução [e] foi um dos mais divulgados” online, diz Prado.

Bolsonaro evitou comentar publicamente os acontecimentos no Brasil e emitiu críticas acanhadas às ações de seus apoiadores no 8 de janeiro. Especialistas dizem que seria preciso muito pouco para incitá-los caso ele decidisse se pronunciar. “Muitas pessoas ainda estão abaladas pelo que aconteceu nas eleições”, disse Bolsonaro na quarta-feira, se referindo a si mesmo como “mais popular do que nunca”.

Em Washington, parlamentares democratas têm aumentado a pressão sobre Biden para revogar o visto de Bolsonaro. Em carta enviada ao presidente no dia 12 de janeiro, e assinada por dezenas de legisladores, incluindo democratas veteranos na Comissão de Relações Exteriores do Congresso, pediram ao Presidente que “reavaliasse o status dele no país para averiguar se há uma base legal para sua permanência e revogasse qualquer visto diplomático que ele possa ter” e disseram ainda que os EUA devem cooperar com as autoridades brasileiras na investigação do papel que ele pode ter desempenhado nos ataques em Brasília e em qualquer outra atividade criminosa que tenha cometido no cargo.

Eles escreveram que os ataques em Brasília foram “construídos a partir de meses de uma narrativa pré e pós eleição, feitas por Bolsonaro e seus aliados afirmando que a eleição presidencial de 30 de outubro seria e depois que tinha sido fraudada”. “Os Estados Unidos não devem lhe fornecer abrigo”.

É difícil encontrar lógica entre a seriedade e violência das ações de seus apoiadores no Brasil com as cenas surreais na Flórida. Em evento organizado em sua homenagem por um grupo de conservadores expatriados brasileiros na quarta-feira, Bolsonaro se posicionou sob os holofotes em um pequeno palco em um shopping center de Orlando, sentando-se em uma poltrona roxa ao lado de um pufe felpudo decorado com uma única flor. Vídeos postados por pessoas mostram uma pequena multidão de fãs majoritariamente brasileiros que residem nos EUA e pagaram até US$ 50 para ver e filmar Bolsonaro, que aparece envolto na bandeira brasileira, cercado por pessoas rezando por ele, embalados ao som de música. “Só quero agradecer muito, por tudo, a América está grata a você”, disse Jimmy Levy, um antigo participante do American Idol que se tornou popular com o público MAGA nos últimos anos, compondo músicas como “Deus Contra o Governo” em manifestações antivacina e outros eventos da extrema-direita. “Todos que são patriotas na América estão com os patriotas no Brasil”.

ESTA É UMA TRADUÇÃO LIVRE, LINK PARA O TEXTO ORIGINAL


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Sobre o tradutor: Pedro Galhardo é Bacharel em Direito, jornalista e tecnólogo em Comércio Exterior; pós-graduado em Diplomacia e Relações Internacionais, é também professor de inglês. Traduz textos jornalísticos de relevância desde, pelo menos, 2017. Seus hobbies incluem, mas não se limitam, ao estudo de história, geografia, economia e mercados, música, iatismo, aviação e outras línguas estrangeiras, como o francês e o espanhol.