Bill Gates acusa Elon Musk de “matar crianças” após cortes em agência humanitária dos EUA

O bilionário e filantropo Bill Gates intensificou nesta quinta-feira (8) suas críticas a Elon Musk, atual homem mais rico do mundo e figura central no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em entrevistas ao Financial Times e ao New York Times, Gates acusou Musk de ser responsável pela morte de crianças pobres devido a cortes drásticos na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), órgão fundamental para a assistência humanitária global.

Cortes na USAID e impacto global

O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Musk, promoveu o desmantelamento da USAID em fevereiro de 2025, sob o argumento de eliminar desperdícios. A agência, criada em 1960, era responsável pelo envio de bilhões de dólares para programas de saúde, vacinação infantil, combate à fome e prevenção de doenças como HIV, poliomielite e sarampo em países em desenvolvimento.

Segundo Gates, a decisão abrupta deixou medicamentos e alimentos essenciais apodrecendo em depósitos, colocando em risco avanços conquistados nas últimas décadas. Um dos projetos mais afetados ficava em Moçambique, onde o financiamento norte-americano ajudava a impedir a transmissão do HIV de mães para filhos. Gates afirmou que Musk cortou recursos ao hospital local por acreditar, equivocadamente, que os EUA estariam fornecendo preservativos ao grupo Hamas, na Faixa de Gaza.

“A imagem do homem mais rico do mundo matando as crianças mais pobres do mundo não é bonita”, declarou Gates ao Financial Times.

Gates ressaltou que, devido aos cortes, a mortalidade infantil global pode aumentar, contrariando a tendência de queda observada nos últimos anos. “Em relação às mortes infantis, que nos próximos anos deveriam ter passado de cinco milhões para quatro milhões – agora, a menos que haja uma grande reversão, passaremos provavelmente de cinco milhões para seis milhões”, alertou.

O fundador da Microsoft também criticou a postura filantrópica de Musk, ironizando o compromisso do bilionário com o Giving Pledge – iniciativa que incentiva milionários a doar parte de sua fortuna. Gates destacou que, enquanto ele acelera o processo para doar quase toda sua riqueza ainda em vida, Musk estaria envolvido em decisões que afetam negativamente milhões de vidas vulneráveis.

No mesmo contexto, Gates anunciou que pretende doar praticamente todo o seu patrimônio de US$ 200 bilhões (R$ 1,1 trilhão) até 2045, encerrando as atividades da Fundação Gates após 25 anos de atuação. Ele afirmou que seus herdeiros ficarão com apenas 1% de sua fortuna, reforçando o compromisso de direcionar recursos para causas sociais urgentes.

Repercussão e cenário internacional

A decisão de cortar a ajuda humanitária dos EUA foi recebida com preocupação por líderes internacionais e organizações da sociedade civil. Gates elogiou a resposta de países africanos, que buscaram readequar orçamentos para mitigar os impactos, mas alertou que o progresso no combate à pobreza e a doenças evitáveis depende do apoio contínuo das principais economias globais.