Cannes seleciona filme sobre fotógrafa de Gaza Fatma Hassona; um dia depois, ela é morta em ataque israelense
Fatma Hassona, fotojornalista palestina de 25 anos e protagonista do documentário “Put Your Soul on Your Hand and Walk”, foi morta junto com sua família na última quarta-feira (16) após um míssil israelense atingir seu prédio no norte da Faixa de Gaza. O ataque ocorreu apenas um dia depois de Hassona saber que o filme sobre sua vida havia sido selecionado para estrear na mostra ACID do Festival de Cannes 2025.
A diretora Sepideh Farsi, cineasta premiada iraniana radicada em Paris, recordou Fatma Hassona por seu talento, integridade e esperança. “Não consigo expressar o quanto estou devastada”, disse Farsi. Ela contou que Fatma ficou muito feliz com o convite para Cannes, mas enfatizou seu desejo de retornar a Gaza e permanecer na terra de sua família. Farsi acrescentou que há possibilidade de o prédio de Hassona ter sido alvo proposital, “dado o alto número de jornalistas e fotógrafos mortos pelo exército israelense em Gaza”.

Durante a entrevista ao Democracy Now!, Farsi relatou como conheceu Fatma: “Quando a guerra começou em 7 de outubro, eu estava viajando pelo mundo apresentando meu último filme, que fala de uma guerra que vivi como adolescente no Irã. Decidi ir ao Cairo para tentar cruzar Rafah, mas todas as estradas para Gaza estavam bloqueadas. Comecei então a filmar refugiados palestinos recém-chegados do enclave, e por meio de um deles conheci Fatma online. O contato foi imediato”.
Fatma Hassona documentava os impactos devastadores da guerra em Gaza, tanto com suas fotografias quanto com sua poesia. Ela também era conhecida por distribuir comida, mesmo sob bombardeios, e por sua força diante da dor e do luto. “Seu sorriso era tão mágico quanto sua tenacidade: testemunhando, fotografando Gaza, distribuindo comida apesar das bombas, do luto e da fome”, declarou a equipe da ACID, que selecionou o filme para Cannes.
Farsi descreveu Fatma como uma jovem “radiante, corajosa, resiliente, otimista e íntegra”. Ao longo de um ano, elas mantiveram contato frequente por mensagens e chamadas de vídeo, sempre com o temor de que cada conversa pudesse ser a última. “Todos os dias e noites temi por sua vida”, disse a diretora.
Segundo Farsi, Fatma já havia perdido 13 membros da família em janeiro de 2024, mas nunca deixou de fotografar ou de escrever. “Ela mesma descrevia sua câmera como uma arma: ‘Assim como o atirador ergue o rifle e atira, eu ergo minha câmera e tiro uma foto. É essencial documentar esta guerra e o genocídio’”, contou Farsi.
A diretora ainda revelou que Fatma havia aceitado o convite para Cannes com a condição de poder voltar para Gaza: “A ocupação israelense quer que a gente saia. Eu não quero sair. Quero manter minha terra e minha casa, como os outros palestinos”, disse Fatma, segundo Farsi.
O documentário, construído a partir de conversas em vídeo entre diretora e protagonista, agora ganha um significado ainda mais profundo diante da morte de Fatma. “Todos nós, cineastas e espectadores, devemos fazer jus à sua luz”, declarou a equipe da ACID em nota oficial.
Fatma Hassona também era poeta. Um de seus poemas, lido por Farsi na entrevista, fala sobre morte, resistência e o desejo de transcender a violência. O filme Put Your Soul on Your Hand and Walk estreia em Cannes como um tributo à coragem, à arte e à memória de Fatma Hassona.
FONTE: https://www.democracynow.org/2025/4/18/fatma_hassona_killed_sepideh_farsi_documentary
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