Como a atuação de Trump e Musk pode ter impactado o resultado das eleições na Alemanha

O partido de centro-direita União Democrata-Cristã (CDU) venceu as eleições parlamentares da Alemanha neste domingo (23/2), com 28,6% dos votos após a conclusão da contagem.

A legenda de direita radical Alternativa para Alemanha (AfD) ficou em segundo lugar, com votação recorde de 20,8%. Sua líder Alice Weidel afirmou que foi um “resultado histórico”, já que o partido obteve enormes ganhos desde a eleição de 2021.

A vitória dos conservadores liderados por Friedrich Merz na Alemanha (que caminha para ser o próximo Chanceler), combinada com o avanço expressivo do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), destaca um fenômeno preocupante no cenário político global: a ascensão da extrema-direita e o deslocamento do eixo político tradicional para posições mais radicais. Esse resultado reflete tendências que já se manifestaram em outros países, como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, e aponta para uma reconfiguração das democracias liberais em direção a políticas mais nacionalistas e polarizadas.

O avanço da extrema-direita e seu impacto global

O desempenho histórico da AfD, que conquistou 20% dos votos, é um sinal claro de que o discurso populista e anti-imigração continua a ganhar força em um contexto de descontentamento econômico e insegurança social. A Alemanha, com sua história marcada pelo nazismo, sempre teve uma relação particularmente sensível com movimentos de extrema-direita. No entanto, fatores como crises econômicas, aumento da imigração e mudanças culturais têm alimentado o apoio a partidos que exploram medos e ressentimentos populares. Esse fenômeno não é isolado: movimentos semelhantes têm crescido na Europa (como na Itália com Giorgia Meloni) e fora dela, indicando uma crise mais ampla nos valores democráticos tradicionais.

A interferência do governo Trump durante a campanha alemã, especialmente através do bilionário Elon Musk, sublinha o papel ativo que líderes populistas desempenham na promoção de ideologias semelhantes em outros países. A retórica de Trump e Musk durante o período eleitoral, focada no nacionalismo econômico e no desprezo por instituições multilaterais, ecoa nas plataformas de partidos como a AfD.

O polêmico conselheiro de Trump (que recentemente performou abertamente uma saudação nazista) e proprietário da Tesla, SpaceX e X não hesitou em se envolver totalmente na campanha eleitoral da maior economia da Europa. “Eles precisam votar pela mudança”, disse Musk em uma conversa com a candidata do partido, Alice Weidel. “E é por isso que recomendo fortemente que as pessoas votem no AfD.”

Após as vitórias de Trump em 2016 e 2024, o caminho estava pavimentado para que discursos antes marginalizados ganhassem legitimidade política, criando um efeito cascata global sem precedentes no pós Segunda Guerra Mundial.

O cenário político fragmentado na Alemanha reflete uma dificuldade crescente para formar coalizões estáveis em democracias ocidentais. A necessidade de Friedrich Merz negociar com outros partidos para formar governo ilustra como a ascensão da extrema-direita não apenas polariza o eleitorado, mas também complica os processos políticos tradicionais. Essa instabilidade pode enfraquecer as respostas governamentais a crises econômicas e geopolíticas, como as tensões comerciais com os EUA ou o conflito na Ucrânia.

A vitória conservadora na Alemanha e o fortalecimento da AfD são sintomas de uma mudança global mais ampla em direção ao populismo de direita. Esse movimento desafia os valores centrais das democracias liberais — pluralismo, direitos humanos e cooperação internacional — e exige respostas estratégicas tanto no nível nacional quanto internacional. Sem essas respostas, o risco é um aprofundamento das divisões sociais e políticas que podem minar as bases das democracias modernas.

Como as Democracias Morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. No livro, os autores argumentam que o colapso das democracias modernas não ocorre mais por golpes militares abruptos, mas por um processo gradual de erosão institucional promovido por líderes eleitos que utilizam ferramentas legais para enfraquecer normas democráticas e consolidar o autoritarismo.

Assim como o texto aponta a polarização e a fragmentação política como ameaças às bases democráticas, Levitsky e Ziblatt destacam que líderes populistas frequentemente exploram crises econômicas e sociais para legitimar medidas autoritárias. Esses líderes, muitas vezes outsiders políticos, atacam adversários como inimigos, enfraquecem a imprensa e subvertem instituições sob o pretexto de combater corrupção ou renovar o sistema político. Esse padrão é visível tanto na ascensão de Donald Trump quanto no fortalecimento de partidos como a AfD na Alemanha