O economista Jeffrey Sachs, atualmente professor na Universidade de Columbia e ex-professor de Harvard por mais de duas décadas, é internacionalmente reconhecido por seu trabalho em prol da redução da pobreza, do perdão da dívida e do combate a doenças em países em desenvolvimento. No entanto, nos últimos anos, Sachs tornou-se também uma das vozes mais contundentes contra a política externa dos Estados Unidos, especialmente no que diz respeito à sua postura militar e à condução de conflitos internacionais.
A máquina de guerra e a hegemonia americana
Em discursos recentes, incluindo sua fala no Parlamento Europeu, Sachs não poupou críticas ao que considera o “maior aparato de guerra do planeta”, com gastos anuais que ultrapassam US$ 1,5 trilhão quando somados os orçamentos do Pentágono, CIA, agências de inteligência e outros departamentos ligados à segurança nacional norte-americana. Para o economista, essa supremacia militar não apenas supera a de qualquer outro país, como também sustenta uma postura agressiva e unilateral dos EUA no cenário global.
Sachs relembra que os Estados Unidos são o único país a ter utilizado armas nucleares em combate, e denuncia que tais ações foram justificadas sob falsos pretextos históricos. Segundo ele, a decisão de bombardear Hiroshima e Nagasaki não visava acelerar o fim da Segunda Guerra Mundial, mas sim demonstrar poder à União Soviética — uma demonstração de força que jamais foi acompanhada de autocrítica por parte dos EUA.
Tratados rompidos e a escalada dos conflitos
Outro ponto central das críticas de Sachs é o abandono, por parte dos Estados Unidos, de tratados internacionais fundamentais para a estabilidade global, como o Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM) em 2002 e o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) em 2019. Para o economista, essas decisões alimentaram a desconfiança e a insegurança, especialmente na relação com a Rússia, e estão na raiz de conflitos recentes, como a guerra na Ucrânia.
Sachs argumenta que a expansão da OTAN para o leste europeu, contrariando promessas feitas à Rússia após o fim da União Soviética, foi conduzida sem diálogo real e respeito às “linhas vermelhas” russas. Ele relata, inclusive, conversas pessoais com autoridades americanas que ilustram a arrogância e a falta de disposição para negociações genuínas por parte dos EUA.
A guerra na Ucrânia: um conflito por procuração
Na visão de Sachs, a guerra na Ucrânia tornou-se uma guerra por procuração, em que os EUA e o Reino Unido impedem acordos de paz para manter sua hegemonia e enfraquecer a Rússia, enquanto a população ucraniana paga o preço mais alto em vidas e destruição Ele denuncia que, desde a recusa americana em negociar, cerca de um milhão de ucranianos foram mortos ou gravemente feridos, enquanto parlamentares americanos encaram o conflito como um “ótimo gasto de dinheiro”, já que nenhum soldado dos EUA está morrendo.
Apesar do tom duro de suas críticas, Sachs não é um pessimista. Pelo contrário, ele insiste que o mundo vive um momento de extraordinário avanço tecnológico e de abundância de recursos, capaz de garantir o desenvolvimento sustentável para todos. Para o economista, os grandes conflitos atuais não têm raízes profundas e poderiam ser evitados com escolhas políticas mais sensatas e cooperativas. “Não estamos lutando por espaço vital. Temos o suficiente no planeta para o desenvolvimento sustentável de todos”, afirma Sachs, destacando que a paz é o principal requisito para o sucesso global.
Livros
Jeffrey Sachs é um dos economistas mais influentes do mundo, conhecido por sua atuação em temas como pobreza global, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. Seus livros são acessíveis ao público geral e trazem reflexões importantes sobre os desafios e soluções para um mundo mais justo. Conheça alguns dos seus principais títulos:
Common Wealth: economics for a crowded planet
Ainda sem tradução para o português em algumas edições, este livro aborda os desafios globais do século XXI, como mudanças climáticas, crescimento populacional e escassez de recursos. Sachs defende soluções baseadas em ciência, cooperação internacional e políticas públicas inovadoras.
O fim da pobreza: como acabar com a miséria mundial nos próximos 20 anos
Neste livro, Sachs apresenta sua proposta para erradicar a pobreza extrema até 2025, baseada em sua experiência como conselheiro de governos e instituições internacionais. Ele explica as causas da desigualdade global e sugere caminhos práticos para superar a miséria, destacando o papel da cooperação internacional e da ajuda ao desenvolvimento.
A riqueza de todos: a construção de uma economia sustentável em um mundo dividido
Voltado para leitores interessados em sustentabilidade, Sachs discute como o crescimento econômico pode ser aliado à preservação ambiental e à justiça social. Ele propõe um novo modelo de desenvolvimento que respeite os limites do planeta e beneficie toda a humanidade.