OPINIÃO | Pedro Cunha Lima e o câncer das oligarquias no Brasil. Uma reflexão

A história é de domínio público. Um bisavô prefeito, o avô deputado, o filho governador, o neto senador, a esposa prefeita e assim sucessivamente. São as deformidades da democracia brasileira.

Herdeiro de oligarquia, o Deputado Pedro Cunha Lima, que tem nome de imperador e sobrenome de senhor de terras e escravos, representa essa parcela da sociedade brasileira.

Explico.

Segundo trabalho acadêmico apresentando a UEPB, por Gerson Paulino de Lima Júnior, intitulado “As origens da família Cunha Lima: Sua representatividade política e social no Brejo de Areia (1889-1930)”, o sobrenome “Cunha Lima” descende através de gerações, de Manoel Gomes da Cunha Lima, senhor de terras e de escravos na região de Areia/PB. No período colonial, o “Doutor Cunha Lima” e seu filho o “Coronel Cunha Lima Filho”, fundaram o “clã”.

Pedro, assim como seu ascendente, o “Coronel Cunha Lima Filho”, terminou seus estudos na Europa, em Coimbra. Seguindo a tradição da República velha, que educou seus filhos na faculdade portuguesa, como praticamente um “rito de passagem” para a idade adulta, sendo o último passo necessário antes de assumir os “negócios” da família. Voltou ao Brasil e foi eleito na Paraíba, o Deputado Federal mais votado naquele pleito, com 179.886 mil votos. Estava adulto.

Uso o deputado como exemplo, pela virulência com que tentou no dia de ontem, em que seus três primos foram alvos da operação Calvário por lavagem de dinheiro e desvios de verba pública, chamar a atenção atacando o Governador da Paraíba.

Segundo o Deputado, “João é o maior beneficiário da corrupção do ex-governador Ricardo Coutinho”. O advogado, tenta criar um tipo novo de culpabilidade, a “por tabela”.

Com essa lógica, faz a propina (mensalidade em Portugal) parecer dinheiro perdido em Coimbra, já que sendo assim, podemos chegar a conclusão que o próprio Pedro é beneficiário de anos de corrupção, expostos agora pela Calvário e em 2008 pelo TSE, que lhe bancaram uma vida, não de rei, mas de príncipe.

Não seria justo fazer uma ilação dessa natureza e não faremos.

Vale a lembrança que a oligarquia deu seu irrestrito apoio em 2010, ao eleger Ricardo Coutinho, e nos anos seguintes, como fortes aliados, deu suporte ao governo do “mago”, com bancada na assembleia e familiares no Tribunal de Contas, que aprovaram os “desvios” do governo do mago, segundo a Calvário.

É assim que a oligarquia funciona. Uma rede de poder e influência que rompeu com a própria Coroa Portuguesa e em troca do seu apoio a independência, como recompensa, ganhou assentos no Conselho de Estado de Dom Pedro I. Foram os responsáveis por formular a primeira Constituição do Império do Brasil, que não por acaso foi chamada de “Constituição da Mandioca”.

Foram esses barões, duques e condes que mais tarde se tornaram os “coronéis” da República Velha, como o “Coronel Cunha Lima Filho”, ao apoiar a derrubada da monarquia. Com o início da república e das eleições, se tornaram governadores, prefeitos, deputados e senadores.

A herança desse período é a imensa desigualdade social, a concentração de renda e suas mazelas derivadas, como a violência e a criminalidade, a educação precária, uma saúde pública limitada e insuficiente e a apropriação e expropriação do Estado, em detrimento de toda a população.

Me parece que entre a oligarquia e a república, o jovem Deputado Pedro, já escolheu seu lado.

É como canta Raul Seixas:

“Mas tudo acaba onde começou
É que tudo acaba onde começou”.

Por J. Laurentino


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