Em uma entrevista divulgada na noite de sexta-feira, 9 de fevereiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro negou qualquer envolvimento com a proposta de infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na campanha do então candidato Lula (PT) durante as eleições de 2022. Bolsonaro atribuiu a iniciativa ao ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general da reserva Augusto Heleno.
A possibilidade dessa ação foi mencionada pelo general da reserva durante uma reunião de Bolsonaro com seus ministros em 5 de julho de 2022. O vídeo dessa reunião foi apreendido pela Polícia Federal e divulgado pelo Supremo Tribunal Federal na mesma sexta-feira. Bolsonaro afirmou na entrevista à TV Record: “Em dado momento (da reunião), o Heleno falou que ia seguir os dois lados, se inteirar dos dois lados. É o trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação nenhuma”.
Bolsonaro também destacou que raramente utilizava as agências de inteligência disponíveis, incluindo a Abin, as Forças Armadas e a Polícia Federal. Ele descreveu a proposta de Heleno como uma questão interna da Abin e não viu nada de errado nisso.
Durante a reunião, Heleno propôs montar um esquema para monitorar as atividades das duas campanhas eleitorais. No entanto, Bolsonaro interrompeu o general, pedindo para que ele não prosseguisse e sugerindo que discutissem o assunto em particular, na sala presidencial do Palácio do Planalto.
A gravação da reunião foi obtida pelo STF com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fechou acordo de delação premiada em setembro do ano passado. As informações fornecidas por Cid foram utilizadas pela Polícia Federal na operação Tempus Veritatis, realizada na quinta-feira, 8 de fevereiro, que resultou em 33 mandados de busca e apreensão contra aliados de Bolsonaro e na apreensão do passaporte do ex-presidente, que agora está proibido de deixar o país. Além disso, quatro ex-assessores de Bolsonaro tiveram prisão preventiva decretada.
Durante a reunião, Bolsonaro expressou repetidamente sua crença de que as eleições de 2022 seriam fraudadas para garantir a vitória de Lula e pressionou seus ministros a “fazerem alguma coisa” antes da data das eleições.