OPINIÃO | A extrema piada no centro da vitória

Na eleição pessoense do ano de 2020 aconteceu fenômeno curioso, que hoje no dia do 2º turno se solidifica no resultado eleitoral: o fracasso dos inflamados extremistas, em alguns casos não se trata nem de uma simples derrota, mas sua desmoralização enquanto argumento político.

Esquerda

Na esquerda tivemos um show de horrores, Ricardo Coutinho e Anísio Maia, envolvidos numa luta fratricida, perderam a chance de organizar uma frente ampla capaz de antagonizar com a tradicionalmente pulverizada centro-direita paraibana, que sempre preferiu fazer da eleição municipal um momento de posicionamento de peças visando as eleições estaduais do que apresentar um projeto de cidade para a população. Nesse ponto destaco que houve mais dolo no girassol do que culpa na estrela vermelha. Quanto ao eleitorado mais engajado, um curioso fenômeno: a turma só é anti-bolsonarista e anti-fascista nos domicílios eleitorais dos outros, seja no Rio, em São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza ou na vizinha Recife, mas quando se trata da própria cozinha fazem bico e num muxoxo inexplicável produzem mil argumentos pra não votar contra o bolsonarismo militante aliado aos oligarcas Maranhão e Cunha Lima, representados pelo Nilvan Ferreira.

Bolsonarismo/Extremismo

Nilvan que, ao perceber o bafo da derrota na boca daqueles que revisitavam o discurso bolsonarista de 18 nessa campanha municipal de 20, fez a curva para o Centro a tempo de sustar a sangria de popularidade que a sequência de pesquisas demonstrava no 1º turno, se safando de perder a vaga da segunda fase da eleição para Edilma Freire, que talvez tivesse melhor sorte, não fosse sua extrema relação com a família do prefeito Cartaxo (sua própria) e um surpreendente Ruy Carneiro, que obteve mais votos do que se apostava no início da campanha.

Falando em Ruy, mas já deixando ele de lado, chegamos no segundo turno olhando pros (extremistas) do pólo destro que decidiram fingir indiferença, seus “cabeça de chapa” (Walber Virgulino em destaque) derrotados no primeiro turno, divulgaram isenção, mas muito mais por temerem uma segunda derrota do que qualquer outra coisa, já que sua militância e os seus candidatos a vice declararam publicamente a preferência pelo candidato MDBista. Mas não ficou por aí, circulou entre os grupos de aplicativos de mensagens vídeos de expoentes bolsonaristas como o “notável” Sikêra Júnior apelando por mobilização pró-Nilvan, atiçando aquilo que une a todos os extremistas: o medo da vitória inimiga.

Mas ocorreu que esse prato ultra-temperado não agradou à maioria, depois de refastelar-se dele no pleito de 18, parece que, com o estômago irritado por dois anos de queimação e gastrite política, a grande massa silenciosa decidiu por amenizar nos condimentos e focar no gosto daquilo que realmente importa: a realidade da cidade e dos seus cidadãos que afligidos por uma sequência de crises econômicas e agora também sanitária, tem diante de si o maior desafio do século: vencer e superar a pandemia.

Cícero Lucena

Nesse contexto todo, como quem tira os excessos pra chegar no filé, chegamos no Cícero Lucena. Político tradicional, que já experimentou vitórias e derrotas na capital, e por isso mesmo conta com um enorme recall entre o eleitorado, mesmo que não disponha de militância, conseguiu se colocar bem na disputa desde quando sua candidatura não passava de especulação, com o apoio do Governador João a coisa tomou forma e proporção de favoritismo. No discurso a estratégia foi, no 1º round se esquivar de polêmicas e focar na memória de suas gestões anteriores, relembrando aos antigos e apresentando aos mais novos seus êxitos e sua biografia. Já no 2º, pra não cair na apatia, aceitou o duelo proposto por Nilvan e demonstrou sua habilidade e preparo no pugilato dos debates de “um contra um” nesse turno relâmpago, que mais se assemelhou a uma prorrogação do primeiro, do que numa nova eleição. Pra completar, soube atrair pra si, senão os candidatos, mas a grande massa de vereadores (candidatos e eleitos) ampliando ainda mais seu já potente arco de alianças, mostrando desde já que mais do que saber ser candidato, em campanha eleitoral tem que saber fazer política.

Ficou muito claro pra maioria silenciosa dos eleitores que os extremistas não tem o que oferecer, é só balela e gritaria. Visualizando que a cidade, no pós-pandemia, se assemelha a um trapezista que atravessa o vazio sobre uma corda bamba, necessita de calma, foco e equilíbrio, qualidades que não se encontra nos afoitos, mas naquele magrinho de óculos, que o povo se acostumou a chamar de caboclinho.

Por José Sobrinho

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